Nunca me coibi de contar os episódios caricatos em que me vi envolvido, fosse com motos ou não: em primeiro lugar porque constituem parte importante dos ensinamentos que colhi da vida real (e vou colhendo), em segundo lugar, que diabo! têm de facto muito mais piada!!
Por natureza, desconfio um pouco das "heroicidades" que oiço de vez em quando, porque me soa a fanfarronice – o que até pode não ser o caso, mas enfim. Aliás, muitas das heroicidades gabadas, só por mero acaso não acabaram no Alcoitão, numa cadeira de rodas e em última instância num “jardim de pedra”.
... vão por mim: visitem um dia o Centro de Recuperação do Alcoitão (acho que já não se chama assim) mas há anos, para lá caminhei durante cerca de dez meses, onde esteve o meu irmão.
Mas vamos à queda ( e à minha "malapata" com as vacas):
Era eu menino e moço e tinha a minha primeira duas rodas, uma Macal M70, (com exclusão do triciclo modificado em biciclo, como já contei por aí). Naquela época, não se saía de casa para dar uma volta sem motivo - tinha que haver necessidade! Para melhor compreensão, vejamos o enquadramento.
O meu falecido pai tinha a seu cargo o controlo sobre o plantio/arranque de árvores na freguesia - acho que eucaliptos e outras árvores de grande consumo de água, não podiam ser plantados a menos de “xis” metros dos terrenos de cultivo... qualquer coisa desse género. Sempre que havia desrespeito para com a lei, por norma bastava falar com o proprietário e as árvores eram arrancadas voluntáriamente; caso contrário, lá ia processo para a câmara, seguido de arranque compulsivo das ditas árvores, com direito a acompanhamento da GNR.
Isto levava a que, o meu pai tivesse necessidade de se deslocar com alguma frequência à Câmara Municipal, que dista uns escassos 17km de casa.
Ora, com a novel cinquentinha, assim que surgiu a necessidade de entregar um processo, voluntarizei-me de imediato, já que a estrada convidava (tem curvas até dizer chega) e a febre de andar era muita!! Devo desde já referir que se trata de uma zona eminentemente agrícola pelo que era habitual haver carros de bois (e vacas) nas estradas, e bosta com fartura no alcatrão...
Ia aqui o “herói” a curtir uma curva e contracurva quando, de repente vejo um ziguezague de bosta ainda fresquinha... das primeiras poias ainda me livrei, mas às tantas, não consigo evitar que a roda da frente mergulhe, em inclinação, um grande, verde e malcheiroso monte, pelo que lá vai a mota para um lado, eu para o outro, com tanta sorte que vou acertando e “limpando” as bostas com o corpo, escorregando até parar, mochila ainda às costas com os processos…
Meus caros…a suprema humilhação não foi ter caído: foi a bosta que se enfiou em tudo que era sítio! Depois, aquele pivete, enquanto não cheguei a casa … Eu tinha bosta da cabeça aos pés, carago!!
Entretanto o guiador da Macal ficou torcido, um poisa-pés também, de modo que estão a imaginar a figurinha de um tipo cheio de bosta, todo torcido a tentar equilibrar-se com um braço esticado e outro encolhido, de regresso a casa, lixado e humilhado até à raíz dos cabelos!
Para ajudar, a minha mãe, ao ver-me chegar naquele estado e constatando que não tinha sofrido nada de grave - a não ser umas raspadelas, sai-se com esta:
"Nem penses entrar assim em casa! É já aqui no pátio, vestido, à mangueirada!"
Tenho outras para contar, mas vamos com calma, fica para outra ocasião...
Fiquem bem!